Rugas do Tempo e suas Memórias
Essa coisa toda me invade
Não sei o que é, nem porque chega
Chega sem que eu perceba
Chega sem que seu peça
É como o amanhã
Que vem mesmo que eu não queira
Mesmo que eu esteja dormindo; vem.
Tem certas coisas que a gente não controla.
Não controlamos o nascer do sol
Nem a nebulosa noite, nem a lua.
A gota que a noite deposita sobre a folha
Segue sua trajetória,
Nossos músculos não podem impedir.
O suspiro de alívio que sai do meu peito
Diz muito sobre mim.
Eu que não me conheço realmente
Todas as manhãs acordo sem sobressalto
Depois de ir ao banheiro
De escovar os dentes
Paro frente ao espelho
E reparo fios grisalhos salpicados
Não me assusto com essa nova realidade.
Já tive dias mais juvenis
Já vivi amores infantis
E outros tantos nunca realizados.
Os fios de cabelos grisalhos
Como disse não me assustam
Sei que rugas marcarão sua presença
E também meus passos perderão agilidade.
Como posso enfrentar isso?
Não, não quero enfrentar.
Outro dia, sem que quisesse
Ouvi conversa de dois homens no trem
Um aparentava uns quarenta
O outro, pela sabedoria que expressava
Tinha ao menos uns 70
Dois mundos em comunhão com a vida
Isso me agradou profundamente.
Desci na minha estação
Parei na padaria, tomei um café
Com o pacote de pães numa mão
E o cigarro na outra
Cantarolei uma canção da minha infância
E lembrei do primeiro amor que tive.