JUÍZO FINAL

JUÍZO FINAL

Bruxuleante natureza

Que me agride com sua beleza

Que me faz querer destruí-la

Pela minha sobrevivência

E em nome da ciência

Não sou pássaro

Não sou bicho

Sou gente

E me entrego a sanha

Usando de artimanha

De acabar com tudo

Em nome da civilização

Destrato índios sem reservas

Reservas são preconceitos

E meus conceitos

Privilegiam a raça

A caça aos privilegiados

Pela terra que não é deles

É minha, e desse privilégio

Não abro mão

Puxo serra e facão

E vou entrando

Pregando uma nova era

Onde tudo já era

Em nome da civilização

E sigo meu caminho

Navegando em águas turvas

Que não bebo

Água é coisa de pobre

De espírito e pouco nobre

Eu sou a água

Sou o dono do mundo

E não qualquer vagabundo

Que quer preservar

Ter o privilégio

De guardar para si

E para irracionais

As belezas naturais

Mato-os, a tudo e todos

E assim salvo a humanidade

Da inanição e da verdade

O azul morrerá comigo

Todos terão castigo

Apenas eu sobreviverei

E para isso a tudo e todos

Matarei

Sem problemas de consciência

Com a onisciência que herdei

Do Deus que renego

E bato o prego

Na cruz

No verde, no azul

Da minha grande casa

Folgo em saber e feliz

Estou em matar ou morrer

De desamor

A tudo que recebi

Sem custo

Não sobrará sequer arbusto

Arnaldo Ferreira
Enviado por Arnaldo Ferreira em 07/06/2015
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