JUÍZO FINAL
JUÍZO FINAL
Bruxuleante natureza
Que me agride com sua beleza
Que me faz querer destruí-la
Pela minha sobrevivência
E em nome da ciência
Não sou pássaro
Não sou bicho
Sou gente
E me entrego a sanha
Usando de artimanha
De acabar com tudo
Em nome da civilização
Destrato índios sem reservas
Reservas são preconceitos
E meus conceitos
Privilegiam a raça
A caça aos privilegiados
Pela terra que não é deles
É minha, e desse privilégio
Não abro mão
Puxo serra e facão
E vou entrando
Pregando uma nova era
Onde tudo já era
Em nome da civilização
E sigo meu caminho
Navegando em águas turvas
Que não bebo
Água é coisa de pobre
De espírito e pouco nobre
Eu sou a água
Sou o dono do mundo
E não qualquer vagabundo
Que quer preservar
Ter o privilégio
De guardar para si
E para irracionais
As belezas naturais
Mato-os, a tudo e todos
E assim salvo a humanidade
Da inanição e da verdade
O azul morrerá comigo
Todos terão castigo
Apenas eu sobreviverei
E para isso a tudo e todos
Matarei
Sem problemas de consciência
Com a onisciência que herdei
Do Deus que renego
E bato o prego
Na cruz
No verde, no azul
Da minha grande casa
Folgo em saber e feliz
Estou em matar ou morrer
De desamor
A tudo que recebi
Sem custo
Não sobrará sequer arbusto