O caso
Ensandecido com a nostalgia da noite
Foi-se, volta a volta, enrubrecendo-se
Vestia de um azul que não lhe pertencia
Algo de estranho, aquele azul
E como que forçosamente e pontual
Começou a lutar para não esvair-se
Equilibrou-se pelas serras íngremes
Por seu peso e sua forma, não durou
Lentamente, tristemente, deslizava
Em desespero, gritou!
Seus gritos rubros e róseos nos enchiam os olhos
Seu desespero nos aprazia.
Enfim, depois de explodir em mil cores
E derramar-se em sangue quase púrpuro
Feneceu, docemente.
E por isso, milhares deles surgiram no ante-breu
Indo e vindo, em todos os lados
Exprimindo os contornos dessa cidade
Desenhando trajetos de vota ao lar
Indicando as trilhas de se perder
E apagando-se, finalmente, para o sono alheio.
Restou-me a memória:
Imagem desse sofrimento na retina
E a certeza que esse sofrimento será diário
E por isso essa explosão de beleza também.