DECOMPOSIÇÃO
DECOMPOSIÇÃO
Rasga, inclemente, dura pele em mil rugas
Abrindo espaço tênue entre tantas verrugas
Dilacera a carne cansada sem verter sangue
Desfiando até tornar fiapo o tecido exangue
Denuncia a uricemia em gotas lancinantes
Saindo de olhos cansados e lacrimejantes
Apodrece, insidioso, o artelho hipoxêmico
Putrefazendo sem ver pâncreas glicêmico
Amolenta, com achincalho, o órgão do mijo
Desnudando sem pudor orgulho outrora rijo
Esvanece em desarranjo conteúdo entérico
Deixando aos poucos semblante cadavérico
Entope coronária para o iminente infarto
Inundando de gorduras vaso já tão farto
Necrosa, sem piedade, a morada do amor
Encerrando n´alma todo vasto esplendor
Infiltra, agressivo, as patas do caranguejo
Desfazendo a matéria em horrendo latejo
Decompõe massa cinzenta logrando existir
Impedindo também a capacidade de sentir
Marco Antônio Abreu Florentino
OBS: Uma forma de compreender CIORAN
Com esse poema, faço uma homenagem ao que considero o maior de todos os poetas brasileiros... o paraibano Augusto dos Anjos.
https://youtu.be/RsKqMNDoR4o
(George Michael, Elton John - Don't Let The Sun Go Down On Me)