Sombra Perdida
A Fernando Pessoa
Imenso Espelho, eu não consigo ver em ti
O reflexo trigueiro de minha imagem inteira.
Intenso é o teu brilho que o sol poente ofusca.
Deixas-me cega e me cega [do meu corpo
A sombra.
Imensidão Infinita – Espelho Meu –
Inspiras os Poetas e as Sereias,
Moldas as Pedras e as Areias,
Cativas os sonhos das ilhas desérticas.
Leva para bem longe as súplicas e em teus
Ouvidos, guarda os segredos, sequestra os vivos
Homens – Lar de seres distintos.
Dissimula as dores, desperta
Os amores. Impõe respeito –
Imensidão Infinita.
Majestade imperiosa que a copiosa luz alcança,
Em ti há vida – a mim – comunicas.
Tranquilizas-me a alma pequenina e torta,
Apoderas-te da minha’Voz – Pessoa
Pluraleignota – Harmoniosamente genial,
Mas Morta. Vem, dou-te acesso à minha porta.
Mudarei por certo se a ti enfrentar…
Sou Música intangívelefrágil, tu és o Mar,
Imenso Espelho – sou tua’outra – vivo
Em tua’outra
[Sombra Perdida.
Entre 17/01/2006 – Salvador e 14/10/2009 – Coimbra.
Publicada na Revista Subversa nº 9 (Edição Especial do mês de maio) após ter sido submetida à Crítica Literária da mesma Revista e ter recebido positiva avaliação.