PRESO NA MADRUGADA

Estou preso na madrugada ouvindo os minutos escoarem pelo túnel do tempo.  Sinto o meu próprio respirar como se fosse o som do mar quebrando ondas invisíveis na escuridão da noite.  As horas passam incessantes e irrepreensíveis pelos meus dedos que tentam não deixar a velhice chegar assim, trazendo rugas, enfado, flatulências cerebrais.  Meu posto está guarnecido, vigiado pelo Altíssimo, não preciso estar acordado nessa vigília inútil, mas,estou. Preso na madrugada e pensando nela.

Ouço o som das águas do aquário e me lembro da neoplagia, da cacofonia, prosopopéia sobre os prédios da cidade e seus binóculos indiscretos observando mortes nos becos, sexo nas janelas, bebês e velhos trocando de lugares à luz, e eu aqui, preso na hora terceira da madrugada, sozinho, pensando nela.

Já reli escritores em tela, saltitei em planos de férias, orei por meus amigos e repeti o Pai Nosso, tomei outro vinho e fiz um poema sobre amor por ela, e os minutos escorreram pelo duto do tempo, escoaram pelo túnel escuro da madrugada onde estou preso...

Por Paulo Siuves

Paulo Siuves
Enviado por Paulo Siuves em 30/05/2015
Código do texto: T5259898
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