PRESO NA MADRUGADA
Estou preso na madrugada ouvindo os minutos escoarem pelo túnel do tempo. Sinto o meu próprio respirar como se fosse o som do mar quebrando ondas invisíveis na escuridão da noite. As horas passam incessantes e irrepreensíveis pelos meus dedos que tentam não deixar a velhice chegar assim, trazendo rugas, enfado, flatulências cerebrais. Meu posto está guarnecido, vigiado pelo Altíssimo, não preciso estar acordado nessa vigília inútil, mas,estou. Preso na madrugada e pensando nela.
Ouço o som das águas do aquário e me lembro da neoplagia, da cacofonia, prosopopéia sobre os prédios da cidade e seus binóculos indiscretos observando mortes nos becos, sexo nas janelas, bebês e velhos trocando de lugares à luz, e eu aqui, preso na hora terceira da madrugada, sozinho, pensando nela.
Já reli escritores em tela, saltitei em planos de férias, orei por meus amigos e repeti o Pai Nosso, tomei outro vinho e fiz um poema sobre amor por ela, e os minutos escorreram pelo duto do tempo, escoaram pelo túnel escuro da madrugada onde estou preso...
Por Paulo Siuves