Salvação
Salva-me da consciência tardia
dos dias que se vão, da partida
que não se houve adeus, ou beijo
que não há vistas para o mar
onde se espera a volta, na onda,
do amado, dia-a-dia, crescendo...
Salva-me devagar, que os dias
são curtos, são velozes, são hojes
um amor que deve ter seu fim
se ao fim chegar antes de mim -
salva-me com a duração da morte
salva-me com a certeza dos cegos
para sempre com seu tato, seu cheiro.
Dize às pessoas incrédulas que
recomeça a manhã, com sua voz
chamada pássaro, seu rumor tomado
sem o tumor ramado pelo corpo
e você não morre, e você não vai...
- voz de anjos vêm cantar amábile -
De repente, silêncio, levaram tudo
nem restou quem ficasse mudo
porque nem meu susto permaneceu
nem meu corpo com o seu desfaleceu
diante de agora, diante de mais,
dianternidade, entre a dúvida e o ser.
Salvo-te, enfim, no poema, leito
no poema que se faz peito, perto
os dedos na pena que descreve certo
o seu ficar meus braços, que aperto
até saber-te cada vez menos, ao passo
que descubro chegar meu fim, neste poema.
http://metrezuza.blogspot.com