Não que...
Não que tenha deixado
de admirar as rosas
Elas simplesmente
não florescem mais
em meu jardim invernal
dissociado de luz
Não que haja desistido
das sangrentas lutas
ferozes e rotineiras
Mas em meus imensos
campos de guerra
existem corpos demais.
Não que a dor tenha
assumido o controle
dessa alma perplexa
Mas vejo em lampejos
a vida que se esvai
a cada movimento.
Não que tenha perdido
toda a fé na raça
quase humana que vacila
Mas é cada vez mais
raro vislumbrar um rasgo
de absoluta ternura.
Não que a desilusão
se tenha estabelecido
lânguida e completamente
Mas dentro em mim percebo
a escuridão que cresce e
me abraça de forma intensa.
Não que tenha trancado
a voz na quietude amorfa
e satânica dos silêncios
Mas minha mente contém
o grito valoroso daquilo
que não deve ser dito.
Não que tenha perdido
a exata noção do desejo
em meu porão hibernante
Já que a pele pede vida
e abrigo em agasalhos
de mãos firmes
nunca indolentes .
E que sejam quentes.
Claudia Gadini
26.05.05