O sangue de Satanás


Maldito sejas tu, mil vezes maldito, sangue de Satanás,
Negro, viscoso, que por séculos esteve no fundo da terra,
Que aflorou ao mundo como promessa de dias de paz
E que hoje mostra o que és: o sangue dos donos da guerra.
Tu nos enfeitiçaste com os clarins da modernidade,
Com promessas de conforto, em eqüidade e abundância,
E fez de nós homens este espectro preguiçoso, covarde,
Que se cala e se curva ao seu domínio em sórdida ganância.


Das areias dos desertos, das terras de sonhos de mil e uma noites
Onde milhões morrem de fome e uns poucos vivem no fausto,
Das maiores profundezas do oceano, as marcas de teus açoites
Vergastam esta humanidade insana e a conduz ao holocausto.
Para saciar nossa luxúria e preguiça, tornamo-nos de ti serventes,
E, em tua glória, com grossas colunas de fumaça poluímos os ares,
Fizemos guerra, grassamos a peste, a fome, a miséria inclementes
Destruímos flores, fauna e flora, poluímos nossas fontes, rios e mares.


E hoje reinas triunfante, ouro negro que brilha nos olhos dementes,
Que circula nas veias desse teu filho que pretende dominar o mundo,
À força de fuzis, de metralhas, ressoar de bombas, rugir de canhões,
Já que lhe foi negado qualquer resquício de sanidade, este é seu dom:
Lutar e se apossar do que não lhe pertence, larápio inconseqüente,
Mentir, fraudar, trapacear, matar para saciar seu propósito imundo,
Julgando, em seus delírios onipotentes, que ele e seu bando de ladrões,
Sobreviverão aos cogumelos que cultivaram para este Armagedon.
LHMignone
Enviado por LHMignone em 21/09/2005
Reeditado em 05/09/2017
Código do texto: T52506
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