Retina de Criança
RETINA DE CRIANÇA – 15/02/15
Felipe Vieira
Sempre achei estranho
O fato das crianças em tenra idade encararem-me
Seus corpos em colo macio
Seus olhos sobre mim
Como se estivessem procurando algo
Uma curiosidade sobre a qual nunca tive
O que poderiam pensar ou sentir?
Talvez vejam algo que eu jamais vi
Sempre achei estranho
Aqueles olhos
Não creio que eu tenha o rosto da inocência
Nem que seja tão puro dotado assim de tamanho afeto
Um brilho próprio que atrai sua consciência mesmo quieto
Mas finjo
Em meu canto escuro achar graça na criança cujo pai não sou
Olhando-me como um conhecido
Velhos amigos de tempos ancestrais
Seja como for
Em uma fração de segundo encontro a esperança na presença
Torno-me enfim parte da criação do mundo
No exato momento em que toco profundo
A retina da criança que me concedeu existência