UM ABRAÇO PARA MANOEL

Dizem que entre nós

há oceanos e terras com peso de distância.

Talvez. Quem sabe de certezas não é o poeta.

O mundo que é nosso

é sempre tão pequeno e tão infindo

que só cabe em olhar de menino.

Contra essa distância

tu me deste uma sabedora desgeografia

e engravidando palavra africana

tornei-me tão vizinho

que ganhei intimidades

com a barriga do teu chão brasileiro.

E é sempre o mesmo chão,

a mesma poeira nos versos,

a mesma peneira separando os grãos,

a mesma infância nos devolvendo a palavra

a mesma palavra devolvendo a infância.

E assim,

sem lonjura,

na mesma água

riscaremos a palavra

que incendeia a nuvem.

MIA COUTO

19-12-2013

Mia Couto
Enviado por Oneida Resende em 16/05/2015
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