Um pássaro, uma manhã...
“Passa, ave, passa, e ensina-me a passar!” (Alberto Caeiro)
Um pássaro madrugador confessou nos meus ouvidos
que hoje o dia estará com uma feição espetacular.
- Sussurrou e saiu voando em disparada!
Surpreendentemente, não fiquei espantado com o fato,
maravilhado, descobri que somente eu ouvia pássaros...
- Isto, já faria o dia esplêndido!
É comum se fartarem no meu quintal e no meu jardim...
Aninham-se e se amam nas palmeiras e samambaias;
- mas, daí a segredar nos meus ouvidos!
Deve ser porque chegou a primavera e vão pintar tudo
com cores magníficas, deve ser porque é lei se alegrar.
- Na primavera, não se salva a tristeza!
Um raro lilás, um amarelo vibrante e um rubro sangue
sobrepuseram o verde do jardim pondo vida em tudo...
- o que se pintou, de fato, foi o meu olhar!
Parecendo um raio, talhou pelas flores um louco pássaro,
abriu o bico e cantou como nunca! Até ele se contemplou.
- Fiz-me de morto e apreciei a vida!