Palavras que pousam

As palavras me pousam no peito como pássaros

que vêm não sei de onde...

pousam no desejo de fazer ninhos,

tecidos com rimas e versos,

ou com prosas amarelo-alaranjadas

catadas num amanhecer qualquer.

Elas surgem... em pleno dia

ou nas tardes nubladas

de outonos velhos... amarronzados

pelo tempo.

Diversas vezes aparecem abundantes,

surgem em bando...

umas tropeçando nas outras.

A procura de saciar ambas as fomes: minhas e delas!

Alimento-as com canções

de alvoradas: canto de galos... pios de aves,

latidos distantes, melodias do dia.

Outras vezes, lhes dou de comer com

relvas verdejantes,

cheiros de chuvas...

capins molhados...

cheiros de flor...

que entram pelas janelas

abertas.

Pelas brechas da alma,

pelos vãos das vidraças

junto com o vento.

As palavras pousam... se assossegam...

até adormecerem.

Fazem morada

por uns tempos poucos,

descansam em minhas mãos.

Se camuflam nos versos soltos

que têm também, o desejo intenso

de voar.

Aí elas voam,

não escolhem momento

para ir embora,

voam rápido,

desaparecem

num revoar incomum,

como se tivessem cansadas

do pouso,

ávidas por voarem

novamente.

Elas deixam

de presente

os ninhos...

ninhos de tranças poéticas,

de rimas coloridas,

de versos cheirosos... de sonhos bailantes.

Cheios da fértil inspiração...

contos da vida, pedrinhas do mundo...

contas de areia...

trazidas uma a uma,

catadas nos tempos e dias,

nas praias desertas...

nas tardes infindas...

próximas demais do anoitecer.

E aguardo o novo

pouso,

submissa!

Dete Acioli
Enviado por Dete Acioli em 14/05/2015
Reeditado em 15/05/2015
Código do texto: T5242060
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