Palavras que pousam
As palavras me pousam no peito como pássaros
que vêm não sei de onde...
pousam no desejo de fazer ninhos,
tecidos com rimas e versos,
ou com prosas amarelo-alaranjadas
catadas num amanhecer qualquer.
Elas surgem... em pleno dia
ou nas tardes nubladas
de outonos velhos... amarronzados
pelo tempo.
Diversas vezes aparecem abundantes,
surgem em bando...
umas tropeçando nas outras.
A procura de saciar ambas as fomes: minhas e delas!
Alimento-as com canções
de alvoradas: canto de galos... pios de aves,
latidos distantes, melodias do dia.
Outras vezes, lhes dou de comer com
relvas verdejantes,
cheiros de chuvas...
capins molhados...
cheiros de flor...
que entram pelas janelas
abertas.
Pelas brechas da alma,
pelos vãos das vidraças
junto com o vento.
As palavras pousam... se assossegam...
até adormecerem.
Fazem morada
por uns tempos poucos,
descansam em minhas mãos.
Se camuflam nos versos soltos
que têm também, o desejo intenso
de voar.
Aí elas voam,
não escolhem momento
para ir embora,
voam rápido,
desaparecem
num revoar incomum,
como se tivessem cansadas
do pouso,
ávidas por voarem
novamente.
Elas deixam
de presente
os ninhos...
ninhos de tranças poéticas,
de rimas coloridas,
de versos cheirosos... de sonhos bailantes.
Cheios da fértil inspiração...
contos da vida, pedrinhas do mundo...
contas de areia...
trazidas uma a uma,
catadas nos tempos e dias,
nas praias desertas...
nas tardes infindas...
próximas demais do anoitecer.
E aguardo o novo
pouso,
submissa!