O QUE É POESIA? VERDADEIRAS POESIAS.

Angústia

Não vim domar teu corpo esta noite, ó cadela

Que encerras os pecados de um povo, ou cavar

Em teus cabelos torpes a triste procela

No incurável fastio em meu beijo a vazar: Busco em teu leito o sono atroz sem devaneios

Pairando sob ignotas telas do remorso,

E que possas gozar após negros enleios,

Tu que acima do nada sabes mais que os mortos: Pois o Vício, a roer minha nata nobreza,

Tal como a ti marcou-me de esterilidade,

Mas enquanto teu seio de pedra é cidade.

De um coração que crime algum fere com presas,

Pálido, fujo, nulo, envolto em meu sudário,

Com medo de morrer, pois durmo solitário.

Stephane Mallarmé

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Quanto mais perto estou do dia extremo

Que o sofrimento humano torna breve,

Mais vejo o tempo andar veloz e leve

E o que dele esperar falaz e menos.

E a mim me digo: Pouco ainda andaremos

De amor falando, até que como neve

Se dissolva este encargo que a alma teve,

Duro e pesado, e a paz então veremos:

Pois que nele cairá essa esperança

Que nos fez delirar tão longamente

E o riso, e o pranto, e o medo, e também a ira;

E veremos o quão frequentemente

Por coisas dúbias o ânimo se cansa

E que não raro é em vão que se suspira.

Petrarca

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Os poetas místicos são filósofos doentes,

E os filósofos são homens doidos.

Porque os poetas místicos dizem que as flores sentem

E dizem que as pedras têm alma

E que os rios têm êxtases ao luar.

Mas as flores, se sentissem, não eram flores,

Eram gente;

E se as pedras tivessem alma, eram coisas vivas, não eram pedras;

E se os rios tivessem êxtases ao luar,

Os rios seriam homens doentes.

Alberto Caeeiro

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Morte por água

Flebas, o Fenício, morto há quinze dias,

Esqueceu o grito das gaivotas e o marulho das vagas

E os lucros e prejuízos.

Uma corrente submarina Roeu-lhe os ossos em surdina.

Enquanto subia e descia Ele evocava as cenas de sua maturidade e juventude

Até que ao torvelinho sucumbiu.

Gentio ou judeu Ó tu que o leme giras e avistas onde o vento se origina,

Considera a Flebas, que foi um dia alto e belo como tu.

T. S. Elliot

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Escritores, há muitos.

Juntem um milhar.

E ergamos em Nice um asilo para os críticos.

Vocês pensam que é mole viver a enxaguar

A nossa roupa branca nos artigos?

Vladimir Maiakóvski

nomes nos rodapés das poesias.
Enviado por Celso Panza em 13/05/2015
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