Poema

Eu vim falar das coisas que vi

no palácio, e nas guerras, e nas danças;

eu vim falar das lutas, e da razão

do poema que eu faço, e da donzela:

minha meiga donzela do paço sem flores

segui meus rastros, senti os meus laivos,

tão longe laivos, delírios da terra do Lácio.

Eu te faço o que pediu, com letras

eu te dou o sol, e a lua, o drama

onde também cabe a fome, e a morte,

e o que é que espera, e buscando-a

dou-te amor até a velhice, junto

como se morasse, como se dormisse e bem gostasse

e todo gesto teu fosse comigo o que é

contigo o meu gesto no papel,

este poema, torto, sem medo, rápido

para não te lembrar como quero

mas para que sejas, para o que é

você, descolorida, dura, sem ser

bicho ou gente; e ser apenas palavra,

verso e estrofe; forma e conteúdo.

Meu poema antes amante, mas antes

meu poema d’antes saber de qualquer

amor, sujeito, verbo, fúria ou lentidão

eu te faço de cor, depois para mim,

meu coração sem nada, e depois o dou

para que possa amá-lo, e amando-o

possa você me conhecer pelo que te dou,

e me amando, eu possa amar você

assim, presente nas coisas do mundo

presente no que me pede, no tempo

deste instante, meu poema de amor.

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