Lago sem fundo
Quero crer em um poema.
E, diante de tanto narciso,
em nossa cultura,
encontrei um dilema.
Quando escrevo para mim,
sou a maldição de meus morfemas.
Aí, dialogar com o outro
pode ser solução,
ou problema.
Blasfema, rema, rema
para longe poeta
e lembra de que suas rimas
são riquezas perdidas!
Escrevo sem espelho.
A minha ode encontra na sorte
um sincero lampejo.
Hoje, quem era amigo
cria situações piores
do que as criadas por inimigos.
Escritor revela sua dor
sem nenhuma pretensão.
Mas sempre existirão pretenciosos
nesta Nação.
Posso falar de São Gonçalo,
como falo do Brasil.
Talvez, nem queira falar.
A cada linha, mergulho
em meu lago sem fundo.
Porque ser simples me apaga
e me insere no seu mundo.
Que Perigo! Afinal, Narciso
não tem nada a ver
com isso.