Mundo Paralelo
Orquídeas; mandrágoras de raízes de gente;
lírios. Num sonho sentado em um banco
lendo Brejo das Almas*.
O despertador: 06:00, como sabe desperta a dor.
Levantei, ainda perdido no sonho:
Orquídeas, mandrágoras de raízes de gente.
sentando lendo Brejo das Almas.
Caminha assustado, olhos de morto,
lavei o rosto, não sentia a água, sentia
a fragrância das orquídeas e lírios, lia o Brejo das Almas.
Já na sala! ou era cozinha?
tomará café, pois não.
no brejo das almas, das orquídeas e mandrágoras,
jogava pães aos pombos.
Na garagem ou não sei onde,
peguei o carro. Minto! Peguei
um taxi, Fui a pé?
Com os pombos, as orquídeas e mandrágoras
lia um poema do Brejo das Almas:
AURORA
“O poeta ia bêbado no bonde.
O dia nascia atrás dos quintais.
As pensões alegres dormiam tristíssimas...
...Tudo era irreparável.
Ninguém sabia que o mundo ia acabar...”
E agora onde estou.
Na avenida paulista, nas calçadas
do Leblon, na quinta com a Broadway?
“... (apenas uma criança percebeu mas ficou calada).
Que o mundo ia acabar às 7 e 45.
Último pensamento! Último telegrama!
José, que colocava pronomes,
Helena, que amava os homens,...”
A rua estava movimentada, gente
indo para algum lugar
-trabalhar, matar, estudar ou morrer.
tropeçaram no meu corpo.
Eu não sentia o impacto, os pombos
talvez sim, voaram. Um apenas ficou olhando
com cara (não sei se cara, era pombo, nao cavalo)
de fome.
Fome de comida
ou fome de minha beleza?
ou ainda fome do poema,
que eu parava em descaso.
Levado pelo tropeço.
Entrei numa biblioteca
peguei um livro, como
disfarce ao tormento.
Vagando sair pela rua
com pessoas ou raízes de mandrágoras,
que não tinham o encanto dos lírios. Não tinham
a pureza do campo.
Agora o brejo das almas, sem pombo,
sem orquídeas, sem lírios, sem mandrágoras.
Ah, maldito.
Despertou a dor
e como dói!
O jardim se foi.
O mundo foi p'ro
brejo, sem almas.
O DESPERTADOR: 7 E 45