ALMA ESTRADEIRA
Ah, eu levei, tu levaste, ele levou,
chumbo na asa pra voar de volta pra casa,
acabrunhado, arredio, cheio de um grande vazio,
depois de já ter passado fome, sede, frio e dor,
mas ligo não, isso é coisa de cantador.
Tem chumbo fino, chumbo médio, chumbo grosso,
tem chumbo que dá comédia, outro que dá alvoroço.
Tem o que acerta o pé, dói no dorso e no pescoço,
tem o que derruba o velho, tem o que empurra o moço,
tem o que atinge a mente, e o que adentra até o osso.
Tem o que ferre a donzela, dá na feia, dá na bela,
em burguês em proletário, violeiro e cantador,
tem quem pega de bandeja, tem quem leva de tigela,
tem quem não sai da igreja, ajoelha e até faz prece,
mas cada um nessa vida tem o chumbo que merece.
Tem quem diz que nunca mais, que foi a vez derradeira,
porém, nasce um novo dia e outra vez cai na estrada,
e de novo lá vem chumbo pegando na asa inteira,
volta no dia seguinte com as penas arrancadas,
a viola afinada, a voz sempre afiada e a alma festivaleira.
Saulo Campos - Itabira MG