Contraditório
O coração do poeta já foi ponte,
tentando inutilmente a ligação, sem dor,
da festiva esperança
com o silêncio abismal do desamor....
Já escreveu mil poemas de amor,
já fez serenatas por amor,
já tomou porres por amor
e já erigiu penhascos de desilusões
para o suicídio de suas desesperadas paixões.
Cansado de corroer a sua alma
com esse gostoso - mas insidioso – veneno vivente,
decidiu, um dia, que na sua vida teria tempo de calma!
Severo, olhou-se num espelho que impiedosamente
mostrava as suas rugas de amor e de falta de paz,
e, solene, decretou: “Amar, nunca mais!”
E viveu sem sobressaltos
o tempo cinzento que a solidão traz...
Mas um dia,
quando foi - já não se lembra mais -
dois olhos apaixonantes
lhe enviaram promessas de fugaz,
talvez, mas novo cálice de prazeres dilacerantes...
Nem hesitou. Retomou o seu fado
de cantar a ilusão de amor.
Poeta impenitente!...
Seu louco coração, que batia calmo e sossegado,
hoje bate forte de "contentamento descontente"!