Contraditório

O coração do poeta já foi ponte,

tentando inutilmente a ligação, sem dor,

da festiva esperança

com o silêncio abismal do desamor....

Já escreveu mil poemas de amor,

já fez serenatas por amor,

já tomou porres por amor

e já erigiu penhascos de desilusões

para o suicídio de suas desesperadas paixões.

Cansado de corroer a sua alma

com esse gostoso - mas insidioso – veneno vivente,

decidiu, um dia, que na sua vida teria tempo de calma!

Severo, olhou-se num espelho que impiedosamente

mostrava as suas rugas de amor e de falta de paz,

e, solene, decretou: “Amar, nunca mais!”

E viveu sem sobressaltos

o tempo cinzento que a solidão traz...

Mas um dia,

quando foi - já não se lembra mais -

dois olhos apaixonantes

lhe enviaram promessas de fugaz,

talvez, mas novo cálice de prazeres dilacerantes...

Nem hesitou. Retomou o seu fado

de cantar a ilusão de amor.

Poeta impenitente!...

Seu louco coração, que batia calmo e sossegado,

hoje bate forte de "contentamento descontente"!

Santiago Cabral
Enviado por Santiago Cabral em 07/05/2015
Código do texto: T5233474
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