[Asas Partidas]
[E o mundo é grande... e o fim do mundo é dissolver-se em nada!]
No longe do Agora daquele antigamente,
brilhava intensamente o sol no azul do céu.
E na rápida curva do córrego,
alegres, varadas de luz, as águas cristalinas,
riscadas pelas folhas viçosas dos galhos
do ingazeiro debruçados sobre a correnteza,
pareciam correr para um futuro sem limites.
Criatura surgida naquelas paragens alvissareiras,
o pássaro altaneiro, orgulhoso de seu voo certeiro
como a faca que sibila no ar para o alvo,
abandonou a lisura frágil dos ramos do ingazeiro:
desconfiado das misteriosas promessas das águas,
protegeu o seu ninho no espinheiro
brotado numa fenda de uma rocha!
Mas as águas passaram, passaram e passaram...
E numa manhã como tantas, o pássaro desperta;
mas agora, ei-lo cansado, ferido, de asas partidas,
e da inútil firmeza da rocha da sua guarida,
o pássaro lamenta a sina que, aos poucos, o mata!
Mais esvoaça e mais os espinhos lhe cravam na carne,
quer voltar à fragilidade do ingazeiro, mas já não pode...
[Penas do Desterro, primeiro de agosto de 1999]
Do meu livro Arribadas(O Passo da Volta)