LEGADO DE ALÉM-MAR

o leve bater das asas, do açor em breve revoar,

do silêncio das casas, do aceno de lenços no cais,

do sonho em quimera no legado de além-mar

à nova terra a espera do semeio dos casais.

Na alvura das velas montando sentinela

Pousando de norte a garça era um duende,

em prenuncio de sorte na terra prometida

pra o alento de gemidos e dores latentes.

A nau era a mão que o sono embalava.

Na proa ia esperança, na popa o adeus.

O mastro era pena riscando poemas

no pontilhado luzeiro de estrelas do breu.

O chão da província pôs fim ao balanço

e o guaiba em remanso fez da âncora a enxada,

que sulcou o campo sem trégua e descanso,

e a colheita o alivio das mãos calejadas.

Brotaram cidades da virgem pampa sulina,

ao açoite do minuano nas noites de frio,

e o clarão das fogueiras das festas juninas

deu a luz à capital nas margens do rio

O prazer do sossego da faina de sol a pino

esquecido nos folguedos que ao silêncio deu fim,

tem o gosto de quindim adoçando os beijos

dos namoros nos festejos e cantorias do divino.

O mastro da nau agora é pau-de-fitas

entrelaçando os sonhos que a safra realizou,

é a frondosa natureza que os galhos abana

numa celebração lusitana do povo que aqui chegou.

A fome do saber foi saciada no "pirão de alguidar"

e as cantigas de ninar brincavam de dançar na roda,

e a pandorga pincela a mistura cores no anil de fundo

na aquarela de cultura que veio pra unir dois mundos.

Cesar Tomazzini
Enviado por Cesar Tomazzini em 05/05/2015
Reeditado em 02/10/2015
Código do texto: T5232053
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