Inútil

Eu deveria estar vivendo agora

Ao invés de escrever a vida,

Vivo no limite da precariedade,

E nos confins da miséria

Minhas mãos tecem um mundo

Que gostaria de viver

Enquanto minhas pernas

Atrofiam-se do dever

Que deixo de cumprir para ser

Na sede de minhas ilusões

O que o mundo me proíbe

Não muito raro a fome me tenta

A ser o assassino de meu ego

E atuar como um personagem odioso,

Até certas paixões me guiam

Para o caminho da esteira,

Mas a fome de meu eu mais recôndito

Se dilata com um grito de pavor

Onde sua vontade é implacável

O pão se torna um alimento

Para uma vida que não quer acontecer

E o pão é ausente na vida tecida

Pela vontade mais alta de viver

Onde as palavras só se tornam carne

Com o corpo abastecido desse mesmo pão

Assim sou nocauteado por duas fomes:

A de pão e a de vida,

Uma suplica por existir

Enquanto a outra invoca o direito de viver

E desse dilema nasce a monógama escolha

Que se casa com a necessidade

Não, definitivamente não!

Minha escolha ouve o grito

De todas as coisas que meu sangue

Quer se impregnar,

De tudo que a carne precisa

Para ser o templo onde a alma dança,

Minha escolha vê necessidade em tudo

E por isso se tornou desnecessária,

Minha escolha é lasciva

E se prostitui abrindo-se para tudo

Que se resultou inútil.

Leandro Tostes Franzoni
Enviado por Leandro Tostes Franzoni em 04/05/2015
Reeditado em 29/11/2023
Código do texto: T5230913
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