Velhice
Gosto da palavra velhice.
Gosto, mas tenho medo.
Velhice pra mim tem cor,
Tem cheiro, tem sabor.
Como se eu tivesse plantado
uma semente, logo que nasci
e depois de anos, cuidando
protegendo das chuvas torrenciais
do sol escaldante dos muitos verões vividos
ter visto cada folha nascer,
finalmente ver as primeiras flores surgirem,
das flores os frutos e se dar conta
de que por mais bonito e doce que sejam,
a maioria apodrece no pé, sem nunca ter sido provado
E ninguém, ninguém mesmo se deu ao trabalho
de colher as que estavam mais altas
graúdas e sob os holofotes do sol ou da lua.
Velhice, pra mim é isso...
Tempo de colheita.
Não da nossa colheita
Porque somos a própria árvore
Que nasceu daquela semente de esperança que fomos um dia,
Mas daqueles a quem estendemos nossos galhos
Os mais carregadinhos dos frutos mais doces.
O medo, fica por conta de ter sido tudo em vão
E só enxergarem as folhas
Que caem e sujam o quintal,
enquanto o tempo vai se encarregando
de fazer o que sabe tão bem:
trancar as coisas inúteis
no quarto escuro do esquecimento.