Velhice

Gosto da palavra velhice.

Gosto, mas tenho medo.

Velhice pra mim tem cor,

Tem cheiro, tem sabor.

Como se eu tivesse plantado

uma semente, logo que nasci

e depois de anos, cuidando

protegendo das chuvas torrenciais

do sol escaldante dos muitos verões vividos

ter visto cada folha nascer,

finalmente ver as primeiras flores surgirem,

das flores os frutos e se dar conta

de que por mais bonito e doce que sejam,

a maioria apodrece no pé, sem nunca ter sido provado

E ninguém, ninguém mesmo se deu ao trabalho

de colher as que estavam mais altas

graúdas e sob os holofotes do sol ou da lua.

Velhice, pra mim é isso...

Tempo de colheita.

Não da nossa colheita

Porque somos a própria árvore

Que nasceu daquela semente de esperança que fomos um dia,

Mas daqueles a quem estendemos nossos galhos

Os mais carregadinhos dos frutos mais doces.

O medo, fica por conta de ter sido tudo em vão

E só enxergarem as folhas

Que caem e sujam o quintal,

enquanto o tempo vai se encarregando

de fazer o que sabe tão bem:

trancar as coisas inúteis

no quarto escuro do esquecimento.

Leda Gaivota
Enviado por Leda Gaivota em 04/05/2015
Reeditado em 05/05/2015
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