O vento passa
O vento passa apascentando sonhos
derrubando folhas das árvores
sobre as águas em fogo do rio
sobre a sombra impassível do cotidiano
Esbate os tons pastéis da aquarela do dia
Desata a imagem no espelho
e aventa o tempo imarcescível
Embala a forma que se desvela nua no ar
Sibila madrigais que ressoam na voz opalina da tarde
O vento passa e traz duas lágrimas
que eu verterei quando morrer de amor
e só de amor
em uma noite grafitada em azul marinho
quando o som das cítaras, plangentes,
acalentarão o mundo compassivo e terno
venerável e arquétipo de um outro lugar
que me conduz a ignaras vidas
tão parecidas com a chama das candeias
acendendo lentas sombras que se evolam
permeadas pelos grises e ébanos
que erguem-se na noite aberta sobre as vidas
as janelas e o caos insopitável
dos sonhos vigís e da ilusão