Perplexidade

Existem dias que ninguém explica:

nem a força de Deus,

nem o acaso dos homens

e eu me pergunto

se tudo é assim incerto

se tudo é assim é ao menos

se o alvo nunca é certo

se a escuridão é mais que vemos.

Existem dias que ninguém explica:

nem as palavras dum poema,

nem um sonho degenerado

e eu só desejo

continuar com minha tristeza

continuar com minha andança

continuar com minha surpresa

de não saber o que me cansa.

E o que me desanima, e enfada,

como que encantamento é

só essa falta de explicação,

esse caminho tão longe,

esse vir que ninguém vê

um horizonte que não se alcança

nem mesmo com todas as mãos,

esse lugar em que não há onde

porque já não há no que se crer.

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