Recordações
Na folha toda em branco
este dilema
da palavra urdida no barro
que me criou
e do qual comi
tímido moleque com uma fome aguda
e insopitável
no meio do nada,
do pó
ignorado pela vida (frágil fio)
tão nua e depauperada como eu
como o terreiro abastado de nada
como a existência encardida
pela poeira voejante e vermelha
entrando pelos cabelos,
imiscuindo-se com a pele
torrentes deletérias
pejadas de sentidos ignotos
e sons conspícuos,
cativos e patéticos
encerrando numa bola de fogo
vermelha
a tarde entrecortada de penumbras
que a noite vem imolar