EFEMÉRIDES

mais quatro passos de alabastro

para que finde esta jornada nefelibata

que o traz atado feito rês pelas patas

e ergue a bandeira do triunfo a meio mastro

mais quatro grossas gotas de suor nacarado

para que enfim possa ver o casario enlutado

há lamentos e prantos sob o crepúsculo encarnado

mas juro não saber sob qual égide está sendo velado

a cantilena das velhas cujas bocas mal se abrem

o choro comedido das daminhas detrás dos lencinhos

a conversa viril dos senhores que tudo fazem e sabem

os amigos que agora se apanham meramente sozinhos

mais quatro tensos minutos de agonia dantesca

e de vez se apagará esse firmamento rubicundo

descerá o gabardine de um negro tão profundo

que nenhum lume ousaria peitar coisa tão pitoresca

mais quatro palavras calcadas nos chavões

e sua voz não mais se ecoará por esses rincões

deixa de herança sua lembrança pouco atraente

adredemente, tal qual o caixeiro que mesmeriza o cliente

o pranto cadenciado das carpideiras fazendo serão

a visita distante, macambúzia, torva, sorumbática

o ébrio doidivanas com pernas de polvo e língua de escorpião

ergue o discurso enfadonho à revelia da recepção antipática

mais nada agora. o enterrador despede-se da lida

encerrada está a patuscada do quase-jovem-nem-tão-velho

que agora vê, lá de cima, dependurado em balões de hélio,

o tamanho da vida

mais nada agora. a suindara não dedicou um reles pio

voltam à baila o natimorto, a adúltera, o príncipe consorte

e ninguém vê que tais balões jazem murchos no leito do rio

desbotados pela morte

as mocinhas guardam os lencinhos e empoam o nariz

as velhas cujas bocas mal se abrem aprenderam a calar

os senhores que tudo sabem reduzem os fatos num almofariz

e os amigos, agora solitários, depositam o coração no lagar