Mesmo...

Mesmo que não sintas dor

nem alívio, nem tortura...

Além de não veres a flor

onde a borboleta busca fartura...

Crê que em mim a dor existe

torturantemente triste...

Envolvida em sedas de mil cores

ornamentando os meus amores...

Dando-me ares de alegria

e temperando os meus sabores...

Olha em teu redor e deixa que te vejam!

Deixa-me ver-te

Deixa-me contemplar-te

Pois é só isso que pretendo

Pois é só isso que posso pretender...

Pois sei que tudo tens

por baixo do teu telhado...

No teu chão que não piso

sem que seja convidado...

Tens da vida toda a atenção

e todas as atenções são poucas!

Todas mereces em profusão

És deusa serena e inquieta

És fogo brando numa chama repleta

És fúria contida num sorriso doce

És paixão garantida, num beijo que fosse...

Mesmo assim ficas distante

Mesmo assim no silêncio te recolhes

És aquela que com um olhar vibrante

fixas imagens de tudo o que olhes...

És o vento fresco dos dias quentes

És o calor aconchegante nos invernos

És a doçura dos gestos ternos

e dos sorrisos eloquentes...

És autêntica e verdadeira

És amiga e companheira

És a confidente guerreira

que tudo ouve com atenção...

És aquela que respeito

mesmo olhando-te de um jeito

a que não dás aprovação...

Jacinto Valente
Enviado por Jacinto Valente em 11/06/2007
Reeditado em 25/09/2008
Código do texto: T522515
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