O barco, o vento e o mar
vês o barco
que atravessa
o solitário mar
levado pelos ventos em fuga
acossado pelo tempo infrangível
e que nas sendas
de setembro
acompanha
a migração das aves
de volta pra casa
neste final de inverno?
Ela via,
disse que via o barco,
e completou:
ensina-me
onde começa o barco?
e o mar?
onde começa o mar?
onde começa o vento?
disse-lhe, então:
sem que te apercebas
o demiurgo que há em ti
escreve elegias em papiros surreais
dobra, nas quimeras dos papéis, origamis
no silêncio do sopro primordial
e compõe haicais onde
a essência e o devir do barco,
do mar,
e do vento afloram
e é dentro de ti
que o barco,
o mar
e o vento começam
indelevelmente
na estesia da tua alma,
fora de ti nada há