Como me pesa a poesia
É grande o fardo de quem carrega a arte nos olhos, de enxergar a doçura dos mais amargos sentimentos e transformá-los em beleza. Quem dera eu ser bailarina!
Há que se possuir um nobre sistema digestivo! Engole-se muito a seco, engole-se muito azedo, muito choro… Tantas palavras estragadas, tanto clichê… As azias são inevitáveis. Quem dera eu ser professora!
É também uma questão de astros, uma coisa de Lua… É preciso ser filha de junho e ter a ascendência acertada… Pra se morrer por cada paixão, acreditar em toda ilusão e não ter medo de mergulhar. Quem dera eu ser aquariana!
Existe um quê de loucura… Coisa de quem não ouve a razão, dá muita voz pro coração, deixa a emoção falar… Não dá pra conciliar. Pra ser sã dos absurdos de quem é normal, de quem é igual… Essa gente sem sal. Quem dera eu ser tão bom! Quem me dera esse dom? Quem me dera!
Karolina Fonseca.