Óide
Sob um sol vermelho alcalóide
um galo antropóide dá o aviso
e nasce mais um dia para vadiagem da luz
A névoa veste a manhã com trajes
de gaze, organdi e celulóide
Os pássaros cantam sempre o mesmo desespero
O incansável trilar dos pássaros
enche a vida de retóricos sons
Um cão ladra para um tempo antigo,
demasiado antigo para que um outro cão responda
Ladra sem entender a manhã
cotonada pelas nuvens nuas,
que não envelhecem
indiferentes ao tempo que passa
envelhecendo e envilecendo
o homem
e seus sofismas
e seus combates irracionais
e o medo do que virá com a noite
A manhã levanta-se do verde do mar
A brisa traz o aroma salgado da maresia
Os pássaros cantam para os poetas nus
No céu,
um azul pendoado e profundo
Os pássaros cantam canções
apascentando o meu mundo