Conto de Ladras

Ocorre sempre quando é dia,

Uma folia, uma poesia talvez.

Um mês, outra vez, outra via

Esguia, na estrada da vez.

E fico assim sem nada,

Boca parada, morto.

Torto na face acabada,

Arrancada do horto.

Ela se foi e se vai,

Deixa um ai, uma dor,

Leva o amor e cai

Numa vida nada de cor.

Leva a estrela do céu,

Mel e limão também,

Leva um nem, deixa o fel,

Deixa-me réu e amém.

Só fica este seu gosto,

Desgosto que volta amanha.

É vã, não volta em agosto,

Posto, me deixa terçã.

É sempre, sempre assim,

Serafim foi dormir,

Fugir, eu sei, de seu fim.

Ai de mim, que não sei fugir.

Maria se vai leva tudo,

Contudo Joana insana,

Cospe na cama, iludo,

E espero a outra semana.

Não tenho mias vida,

Querida ou senhora.

Na hora se vai bandida

Deixa sonhos de outrora.

Não, não deixa não,

Pois leva consigo, gatuna,

Sequer deixa coração,

Mais-valia de minha fortuna.