Marinheira
Menina dos olhos turvos
E andar inconstante
Que hoje ama a mim eternamente
E amanhã, a outrem
Com seu amor intransitivo
Que ama tudo e ama nada
Deixando pegadas profundas
Nas areias de toda a gente
Eu a espero
Que de tempos em tempos
ela joga a sua âncora em mim
E chama os meus braços de lar
Para eu preparar a sua cama
E o seu café da manhã
E se demora tanto em mim
que eu chego a acreditar
Que desta vez vale a pena jogar sementes
E esperar a colheita
Mas antes do verão ela sempre parte
E me deixa com meus frutos solitários
Eu não lamento
E confesso que as vezes
Brinco de marinheira
E vou também conhecer outros corpos
Mas um dia ela volta
Porque ela sempre volta
E eu a espero