Vila Rica
De pé
Sinto o cadafalso a que me levam.
O vazio trêmulo de entre-tábuas balbucia meu nome
E brada à minha espera:
“Increu!
Herege!
Ateu!
Ímpio!
Infiel!”
Passo a passo
Percebo o vão que se abre e me aguarda.
O negror do fosso à frente
Saliva ante meu corpo e o convida:
“Increu!
Herege!
Ateu!
Ímpio!
Infiel!”
Resoluto
Encaro a “corda-adorno” que me fita.
Seu laço é passaporte, ingresso e juiz
E emite o arroto que convoca:
“Increu!
Herege!
Ateu!
Ímpio!
Infiel!”
Entregue
Sou coro à voz infame do patíbulo que arrasta.
O nó se ajusta, aperta e se faz garganta muda e
Transmuta o que pensei no que será!
“Increu!
Herege!
Ateu!
Ímpio!
Infiel!”