Segundo Surrealista

Desse covil de ardentes pensamentos

Vivendo intensamente de revista e café

Um blues qualquer, quem sabe um jazz

Me inspira a escrever à mão

À luz de velas como no passado

Em outros devaneios que se vão

Que se foram

E você musa distinta?

Que não vem, que se atrasa na escuridão

Que eu inventei desse dia de sol

Que se aparecesse eu correria

Pra me esconder em um castelo de cartas marcadas

A vigiar pelas ameias da canastra

De espadas, de ouro, qualquer

Vigiar

As brilhantes madeixas de uma cor impublicável

Pois não seria pudico nem prudente

Ao poeta descrever sua musa

Coloca-la a nu

Como a coloca em fantasias, teso e duro

Se ao revelar-me sondando teus passos

E me indagares

Responderei –te em ato

porque as palavras falham

e se vingam do seu autor

prosperando, de boca em boca

distorcendo, mudando

queria te falar mais

da poeira do chão ao pó das estrelas

mas no simples se encontra a paixão

e o resto é só teoria

te ter comigo um dia qualquer

é muito mais que valeria

todos os livros que jazem sepultados nas estantes

que ao tocados não se excitam

nem se arrepiam

tocar –te com palavras

ainda não me é proibido