AH, CORAÇÃO!
Ele nunca se cala, nunca silencia por completo
Não emudeci, apenas entristece
Diante da perda inesperada do amor falseta
Frente às possibilidades de ser abandonado
Quem nunca chorou rios de águas salinizadas?
Quem não tentou sufocar a dor em líquido etílico?
E acordou com o mundo dentro da cabeça
E a cabeça pendente no leito que agora é limbo
Admiro os masoquistas por amar a dor incondicional
Ah, se pudesse eu sofrer sem vilipêndio infinito
Seria deveras feliz em minha condição de trapo
Teria uma alma dentro desta caixa de carne e osso
Admiro também os que amam em demasia sem asia
Aqueles que a cada dia tem um novo amor louco e fugaz
Que mesmo que o coração doa por um dia apenas
A mente desvia seu foco para outros corpos sedentos
Infinitamente sôfrego dentro do meu ser inconstante
Confesso que de uma certa forma tenho carinho latente
Pela dor que sinto dentro do peito e que me movimenta
A dor que não se exorciza com cruz nem com água benta
Ah, sofrer por amor é tão antiquadamente maléfico e indecente
Um redundante démodé de sentimentos trogloditas e fraquezas
Mas não sofrer por alguém de que modo seja esse amor
É tão estimulante que não procuro analgésico algum
Deixo meu peito explodir em pedaços de pura tristeza vã
E deito meu corpo sempre sedento nos seios de um outro divã