Alma da natureza

Nessa selva que te cobra

Não há mato, nem há cobra

Frutos são migalhas

Do que jogado, se sobra

Humilhado, o animal

Nas tocas se reproduz

Pela noite, ele sai

O instinto lhe conduz

Mas está em toda selva

Também onde o sol brilha

Caçar é o lema da matilha

Mesmo fazendo da sombra relva

Só o superficial pode lhes agradar

Nessa real, que é triste

Nenhum real se multiplica

Verdade comprada que não existe

Até o orvalho, aqui, adoece

De galo, aqui não carece

Tudo tem que ser exato

O fato real, o sonho desconhece

Temos máquinas de cortar sonhos

Chamadas despertador,

E nas manhãs, a dor desperta

Mas um dia de caça e caçador

Além dos monstros quadrados

Que engolem gente

Logo de manhã bem cedo

E em algúm lugar são vomitadas

Vivem este ciclo de devorações

E posteriores regogitos

Hora ou outra machucão que não se vê

Derruba um aos gritos

E com ferramentas fazem-se

Artífices e assassinos

Homens e meninos

Loucos e subordinados

De todas as pedras intocáveis

Verde, de fato, só o lodo no canal,

O rio deste animal, que odeia seu redor

Que agride sua espécie, e as outras, bem pior

O melhor do seu caráter

Dizem, é a curiosidade

E isso chamam de ciência

A manipuladora da verdade

Só menos selvagem que a crença

Da fé cega, da irmandade

Ciclo cinzento da doença

Alimentada, dentre tudo, por vaidade

Esta é, na minha presença

Uma ideia sem vitalidade

O que fazer, alma da natureza?

No incômodo de viver na cidade