16°C
a primeira manhã fria,
nem me lembro da última.
a rua, cinzenta e vazia,
nem autora nem vítima,
apenas a mesma rua.
outrora coroada pelo sol de janeiro,
agora tem de se haver nua.
a primeira manhã fria,
me dou conta do outono.
a velha malha de lã macia,
depois de longo abandono,
segue-me fiel ao corpo.
não temo o vento altaneiro,
nem o horizonte morto.
a primeira manhã fria,
estou só, apesar das vozes.
uma ave, lá em cima, espia
com seus olhinhos velozes.
apenas eu e a ave,
tentando parecer verdadeiros
apesar do estado grave.