AGORA AS CINZAS...



deixei pegadas
e elas foram apagadas;

dediquei palavras, as melhores,
e foram amaldiçoadas,
mal compreendidas;

enviei poemas,
que se quedaram esquecidos;

ofereci o silêncio
e ele foi sacudido por gritos;

abri as mãos, os dedos
e roubaram-lhe as digitais;

doei meu coração,
que não foi transplantado...
incompatível?

mostrei meu amor, lídimo,
mas ele foi desacreditado;
fantasmas de más experiências...

almejei a parceria, a comunhão
e senti-me intrusa;

tantas vezes quis ser leve, brincar
e fui vista com ironia;

quando enfim me vi
nada mais havia a d(o)ar:
eu já estava agonizante.

tudo em mim se desfizera:
a calma, a alegria, o desejo,
a naturalidade, o diálogo.


              [queria, quero, precisamos
                  retomar nosso estágio de encantamento...
                  varrer a borralha.]


das cinzas
fez-se um sonho,
que em cinzas se revolveu.





Inspirado em  "Louco calvátrio de amor",  de Péricles Alves de Oliveira.
KATHLEEN LESSA
Enviado por KATHLEEN LESSA em 10/04/2015
Reeditado em 24/04/2015
Código do texto: T5201571
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