FORA DA TELA
De verdade, não sou como me pintam.
O que é ser agreste, ingênua, pura e bela?
Não sou uma pintura.
Nem sou tão etérea ou leve como dizem.
Não sou nenhum anjo de candura.
Dessa vida, trago minhas próprias sequelas.
Já tive amores e deles quase morri.
Hoje, fujo dessa moldura.
Há um tempo de sair de si e buscar outros cenários.
Busco a amplidão de tudo o que é simples.
De tudo o que não prende.
Busco o gesto simples de afagar as horas com a certeza de que
no próximo minuto ainda estarei viva.
E pulsarei minhas angústias.
E terei um sorriso de compreensão para as dores do mundo.
Que se parecem com as dores de cada um de nós, simples mortais.
Hoje saio desse quadro, como quem saí de si.
Não me enquadro mais nessa moldura onde me querem.
Eu sou da terra dura, do chão gretado, desse mesmo solo árido
do qual, às vezes, brotam rosas.
E, da rosa, sou apenas o espinho.