DELÍRIOS NAS RODOVIAS

O anjo de raio cravado no rosto

mergulhou os pés lilases no mar

e as feridas da batalha cósmica

tornaram-se rochedos, o anjo então beijou o solo de Atlântida

e das labaredas dos lábios de pétalas lunares

ilhas se fizeram, repletas de frutos,

cujo sumo é o amor do homem pela mulher

Já não posso sequer fixar os olhos

nos movimentos ondulantes da Aurora,

pois são teus cabelos que dão vida aos céus,

pelos quais o sol é a voz materializada do meu amor te chamando

Dragões petrificados decoram castelos

erguidos da arquitetura cabalística,

cujos cálculos liberam os números virados

em bandeiras que anunciam: a mulher é você

Pois aquí o amor não é módulo, mas Verbo,

carnívoro e rebelado, trazendo no capacete da nudez

o código das mutações, assim o amor sentido sobrevivendo

aos dias finitos abre as portas dos reinos eternos,

cuja luz, as flores e os céus exalam perfumes e cores nunca vistos

Absorto, ouço o coração do anjo pulsar no motor

quando a anatomia dos seres cósmicos inaugura

delírios nas rodovias e por mais q´eu viva e atravesse as estradas ricas de chuvas, conversarei com o lobo e as abelhas

sobre tua passagem a caminho de um mar

que não se encerra nas pedras recomeça ao pôr do sol