CARBONO

pego pelo brilho de um diamante doente,

eu, arauto incauto dos corações indigentes,

servi-me sedento daquele tesouro de vidro,

tampando os ouvidos, ignorando essa gente

que se orgulha da luz mas do breu colhe presentes.

atado ao raio de uma gema inclemente,

eu, portador amador de boas novas ardentes,

mantive aquele ouro de tolo tão bem escondido,

que se o tivesse esquecido não o teria ausente

dessa minha pobre vida de emoções inexistentes.

rodeado, acuado, por pepitas beligerantes

renasce meu coração pior do que era antes

o que me era mal além de mal agora é bem sabido

para tal fornalha não há qualquer fonte refrigerante

me desfaço no cadinho e solidifico no mesmo instante

içado pela cobiça por lingotes flamejantes

desejo o brilhante do colo das debutantes

e mesmo sabendo que tal tesouro não me é devido

nomeio-me oficialmente como legítimo reclamante

e desço ao inferno que, se não meu, tampouco é o de Dante.