[Maninha]
[Memórias do chalé amarelo – Araguari-MG
Sim, mana eu me lembro muito bem...
Lembro-me de que eras a preferida da mestra
pois dentre todas, eras a escolhida
para recitar a poesia na festa da escola;
e em tua voz, a princípio tímida,
logo fremiam os versos de Castro Alves,
e a nossa mãe rejubilava-se de emoção
nas modulações de tua voz juvenil!
Cadê, mana, aquelas manhãs engalanadas,
cadê a flor primaveril de nossa existência,
aquela luz radiosa de nossas vidas —,
a nossa juventude esperançosa? Cadê?
Lembro-me da singeleza do nosso chalé,
o verde-esperança de nossa infância,
a mesa simples, madeira abençoada
pelas mãos de fada de nossa mãe!
Lembro-me da tua linda boneca:
era assim, gordota, de pernas roliçosas,
unhas pintadas de vermelho,
e lindas melenas douradas!
A tua linda boneca, mana, cadê?
Foram os ciganos que a levaram de ti?
Mas, e os ciganos com as suas barracas
de mistérios e de medos, aonde foram?!
Corre mana, corre, senta-te ao meu lado,
ponha a tua mão em meus cabelos,
conta-me: o que é feito daqueles sonhos,
e das nossas ingênuas esperanças?
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[Penas do Desterro, 24 de outubro de 2000]
Do meu livrinho “Arribadas, O Passo da Volta”,
Ilustrado por Paula Baggio