Criança esperança

Do vivente cativo ao tempo friável

nos sotaventos da ilusão

quando livre da gaiola

quando,

publicada a portaria da alforria,

libertos a alma e o coração,

no corpo inteiro a morena alegria

na alma uma parecença com a infância

nos bolsos bolinhas de gude

ao invés de dinheiro pra acumular

trocar um papagaio por outro

direto do banco pro ar

e às mãos barro, muito barro,

pra fazer de Adão um homem

um puro exemplar edênico,

depois Adão fez-se José

um anacoreta ocidental

com suas ideias opostas

com sua fome estival

comendo do barro

que o fez um dia

ser uma criança esperança

um ideograma da miséria

para o óbolo nacional