Moto perpétuo
I
É quando a voz que cala
O luto revela
E se aprofunda a vala
Entre o silêncio e a fala
E o fim se mostra inteiro e se nos abala
E toda fantasia se faz em mortalha
E o corpo esfria e todo seu ar exala
Que a natureza nossa se impõe e avassala!
II
É quando o “eu“ de antes não se faz presente
E o que estava oculto então se aparente
E do caminho torto me faça ciente
Inda que do fazê-lo não seja eu agente
E entre pensar e agir queira me mostrar coerente
E revolver os tempos se coloque urgente
Antes que o breu eterno a vida corte rente
Que aflora claro o medo de findar ausente!
III
É quando a história estampa a verdade na cara
E se acende o lume que a escancara
E o que se esqueceu é o que nos ampara
Ainda que sob entulhos se encontre a seara
E ela sobreviva se não se mascara
E a necessária pugna se torne tão clara
Como o plantar, que a terra antes se prepara,
Que o fim, em nova saga, o homem repara!