Caneta tinteiro
E agora
Que a vida lá fora
Se compõe de palavras puídas, rotas e vazias
De monólogos anacrônicos
Sortilégios incognoscíveis
E o tempo é só mais uma estória na estória dos dias
Guardo o nada que me diz respeito
Penhoro o que me restou da vida
As palavras que só servem para poesia ficam
Ficam os agostos incomensuravelmente infinitos
Ficam os caminhos e a vertigem ignara dos caminhos
Fica o grito sibilando em místicos terrais
Fica esta lua desperta sob o céu da noite infrangível
E o rememorar das canções cantadas à luz das estrelas
Nas noites onde o amor solfejava no silêncio terno e meigo
Ficam os versos
Para um último poema
O poema fica
Ficam por inteiro
O poema
O papel
E sobre o papel fica o rumor poroso
E a tinta espessa
Da caneta tinteiro