MANUAL PARA ESCRITORAS (ES)
Literatura é labirinto
E se for entrar, bebê,
vá com rigor. Sem fio para marcar a volta.
medo é inevitável
de escuro, de Minotauros! Mas use-os:
mito, dor, desespero, são matérias de arte.
Viaje: andarilha, carona, jangada, disco voador,
Ao céu e à terra, à noite e ao dia, à fauna e à flora
de todas as terras que a rosa dos ventos ensinar.
Sinta cansaço, e frio, e sede, e fome, e mais fome: muita fome
Até gargalhar para o rosto etéreo e colorido da loucura,
E se ela lhe devolver o sorriso em escárnio:
Use o seu corpo – mãos e pés, garganta e língua, cu e boceta,
grite, sangre, goze, engula e ria – ria porque são todos idiotas
Mas deixe seu corpo oco: espaço pr’alma fincar pé na Terra.
Tenha craque, whisky, ecstasy e cocaína.
Use a metade – e jogue o resto para os mendigos [sinta-se amada],
então agarre Virgílio, antes de afundar saía deste círculo – nunca do inferno.
E para cada romance que você chegar ao fim;
trezentas e três peças – e para cada trezentas e três peças:
sete mil e sete poesias – sete vezes cada.
Sete filosofias, sete ciências, sete histórias nacionais
Setenta e sete pinturas e sete fotografias – sete minutos cada
e setecentos contos de fada – com veneno e mortes e incestos.
[Nunca às revistas e aos jornais – a realidade te enforcará]
[Saiba dirigir 28 mil palavras absolutamente indispensáveis]
Fique doente [- um tumor do tamanho de uma laranja Sr. Jest]
Ou quebre as duas pernas – é fundamental conhecer hospitais.
Depois tente matar um presidente em rede nacional, mas, se não der:
mate o médico e coloque na internet – é fundamental conhecer prisões.
[e ser odiado]
E você escreverá o conteúdo que ninguém escreveu,
nas formas que ninguém escreveu,
o outro lado também é um labirinto que também a lhe trará o inevitável abraço apodrecido da morte.
[sem nome lascado em uma pedra de três mil anos]