Saudade de algo de mim

Tenho saudade de algo de mim

daquele que fui e já nem lembro

pedaço brotado que tinha gosto conhecido

voz que chamava e eu vinha no mesmo sopro.

Tenho saudade do moleque que nunca fui,

talvez um dia serei, quem sabe,

moleque sem arreios, sem arestas, sem caciques, sem rebarbas,

tenho saudade dos sonhos que chutei pra longe

dos cacos tantos que desfiz meus engodos, meus enganos,

dos tombos secos que me jogaram pra vida.

Tenho saudade dos dias em que pude ser o que dava na telha

mendigo, lunático, capataz, herói, náufrago, palhaço mambembe

essa mescla de seres que se faziam crer serem tecos de mim

desses, sim, trago toda saudade que couber em mim

e a que não couber, quem sabe, farei parir com toda força dos mundos

e então, por certo, de nada mais terei saudade nessa vida

só de mim mesmo.

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