A Concha da Minha Mão

A concha da minha mão

Traz os bramidos do mar

Antigos sussurros das nereidas

As notas da flauta de Anfion

Os gemidos dos argonautas

Da nau de Ulisses

Os feitiços e a beleza de Circe

Quando a coloco nas bordas

Do meu ouvido

A concha da palma da minha mão

Guarda os sonhos

E minha solidão

As linhas do meu destino

Os labirintos que vou deixando

Os fios

Para não me perder

Concha que traz o eco dos céus

Que bebo água da fonte

E da cacimba

Que murmura nos ouvidos antigos

Poemas

Que colhe os enlevos dos belos seios

Dela

Versos desencontrados

Pedaços de antigas cantigas

Que conta os segredos incontidos

Fragmentos declamados

Nela gesta a pérola

Que a pedra no meio do caminho

Engravidou

Guarda a memória das chuvas

Que engravidou os pastos

De cogumelos alucinados

Minhas lágrimas para mover

Os moinhos

Murmurar nos ouvidos dos cata-ventos

Sonetos de antigos tempos

Molhar as rosas do caminho

Os olhos sem nervura dos espantalhos

Que tomam conta das lavouras soterradas

O hálito dos girassóis

As pétalas dos crisântemos

Os orvalhos das orquídeas selvagens

Os arames farpados deste oprimido

Sertão

É a medida dos versos do meu coração

Pronunciada em profusa solidão

luiefmm
Enviado por luiefmm em 31/03/2015
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