A Concha da Minha Mão
A concha da minha mão
Traz os bramidos do mar
Antigos sussurros das nereidas
As notas da flauta de Anfion
Os gemidos dos argonautas
Da nau de Ulisses
Os feitiços e a beleza de Circe
Quando a coloco nas bordas
Do meu ouvido
A concha da palma da minha mão
Guarda os sonhos
E minha solidão
As linhas do meu destino
Os labirintos que vou deixando
Os fios
Para não me perder
Concha que traz o eco dos céus
Que bebo água da fonte
E da cacimba
Que murmura nos ouvidos antigos
Poemas
Que colhe os enlevos dos belos seios
Dela
Versos desencontrados
Pedaços de antigas cantigas
Que conta os segredos incontidos
Fragmentos declamados
Nela gesta a pérola
Que a pedra no meio do caminho
Engravidou
Guarda a memória das chuvas
Que engravidou os pastos
De cogumelos alucinados
Minhas lágrimas para mover
Os moinhos
Murmurar nos ouvidos dos cata-ventos
Sonetos de antigos tempos
Molhar as rosas do caminho
Os olhos sem nervura dos espantalhos
Que tomam conta das lavouras soterradas
O hálito dos girassóis
As pétalas dos crisântemos
Os orvalhos das orquídeas selvagens
Os arames farpados deste oprimido
Sertão
É a medida dos versos do meu coração
Pronunciada em profusa solidão