Canção do rodamoinho

Das palavras marchetadas de memórias e estesia

nascem daí os poemas

dizendo de si mesmo as sílabas

na canção do rodamoinho girando o pó nas ruas de terra

no voo deambulante de uma borboleta

e em cada lua sucedendo-se num mesmo céu cativo

nas noites fartas de estrelas,

pequeninas gotas de azul num mistério todo escuro,

entregues à brisa que espalha a noite

na cambaleante luz das candeias

brisa que eriça as penas das aves

e encrespa as ondas escarlates

de um mar iluminado pelo insolente ocaso

girando sobre si

numa imensa solidão

numa tocaia chamada vida

tingida pelos vermelhos da tarde que já vai dormir